18.4.12

Venha.

Venha numa noite dessas qualquer, reescrever qualquer verso sob o meu lençol, daquelas noites em que as horas corriam e se perdiam, em planos, trepas e sonhos. Venha e escreva mais um ato, sem nostalgia e melodia, ainda quero história narrada em primeira pessoa, cada um no seu singular – o plural não nos pertence mais – Mas vem porra, mansa ou feroz, escrever o que dos instintos nos sobrou.

9.11.11

Pelos Dias


Não vão se perder pelos dias nem tua pedra azul, teu carinho cor de infinito, nem o que foi dito, ou mesmo o não dito – teu charme maldito, teu olhar de desdém – tudo tem um pouco de impossível, esse teu verbo terrível, esta mania de ser uma ousadia, tua coragem eloqüente, tua finesse doente, tua bronca, teus gritos, tua boca. me tirou dos trilhos o brilho do teu olhar, teu carinho e jeito de me chamar. não vão se perder pelos dias, eu juro, teu mistério, teu choro mudo e sério, teu peito terno, teu desejo etéreo de calma, tua alma anarquista, teu olhar futurista, teu jeito absoluto, teus humores putos, tua fé resoluta, tua conduta. me desculpa as filosofias, mas elas também, não vão se perder pelos dias.
Mônica Montoro

14.8.11

As virgens.

A coruja pousa sobre a janela de vidro para ver os primeiros ensaios de duas virgens.
Virgens, lúcidas e nuas. Estavam elas jogadas em cima do colchão e as cobertas e os lençóis sob o chão, nesse frio que fizera nesses dias.
Só restava e bastava seus corpos, para esquentar a carne que implorava uma pela outra. Ensaiavam um sexo nunca feito, encenavam de tão perfeita forma. Os seios e as mãos, o corpo a corpo, os olhos nos olhos, estes que no silêncio dizia sobre a sua libido, o prazer, dizia sobre o desejo do pecado em ato. Estes mesmos olhos que minutos à frente estreitavam, os lábios eram mordidos, e os gemidos eram dados num clímax fatal. Um gemido que comprovava que a castidade nunca tivera sido a sua sina.

Toco no teu sexo
espraio-me no teu corpo
um porto de abrigo
José Félix

22.4.11

Descobri


Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
Gabriel García Márquez

4.10.10

eu, você e nossos vícios.

Foi assim que lhe avistei, a poucos metros de distância. Nós trocando olhares sem querer, mais querendo nas entrelinhas.
Você de um lado fumando compulsivamente seus cigarros brancos, tentando tragar a ausência minha na sua vida. E eu a poucos metros com meu álcool em excesso, tentando omitir também a minha sede por você.
Seria melhor, é assim era, quando nossos vícios se resumiam em quatro paredes. Compulsivos beijos e excessivas carícias. Tudo era melhor quando o vício era o “nós”.

22.7.10

Hoje

Hoje não quero descrever palavras doces,
Muito menos o erotismo dos nossos corpos.
Hoje me basta rimar sutilmente
Seus olhos nos meus sorrisos.